“No Céu vou ser recebido
Com uma banda de música”. (Mário Quintana)
Aquele dia deveria ter sido igual aos outros dias, mas não foi. Tudo mudou naquela manhã: horários, atendimentos, conversas, estudos, trabalho. Os planos foram alterados. O vento soprou em outra direção. Ele não voltou mais a sua Ítaca.
Meu amigo entrou na embarcação. Seria a sua hora? Talvez. Houve uma festa no céu. A banda tocou o hino celestial. Dizem que depois da festa alguns dos convidados se transformam em estrelas. Acredito nisso. Meu amigo já era estrela na terra e agora no céu.
Há pessoas contagiantes nas ideias, no esforço, na vontade de ser mais, de ser melhor. Exemplos de vida que nos convidam a seguir o embalo da música, a ter visões de felicidade, a atravessar a rua. Na bagagem deixada encontrou-se o tesouro. Alguém decidiu abrir a maleta.
Sinto-me herdeira de uma pequenina parte deste tesouro. Bens valiosos que não serão perturbados pelas traças. Recebi a amizade e a transformei num manto de recordações. Quero eu encontrar o verso mais belo, a sinfonia perfeita, o poema mais completo para dizer-te amigo!
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Ouço o silêncio das horas. A eternidade com seu ar inefável nos apanha surpreendentemente. O mistério cintilante murmura sons e esnoba a nossa escuridão. Não nos concede o cheiro, nem a cor das rosas, nem o orvalho, nem as manhãs de inverno. Cadê a poesia que não chega! Vejo as derradeiras folhas caídas ao vento! Quem as poderá levantar?
As mais belas imagens que tenho de ti amigo ficam agora em repouso. Ninguém as levará de mim. Ficarei presa a esse pequenino mundo, com meus pequeninos sonhos. Sei que “mais perto estás de Deus, como um anjo querido”. Parece um sonho... Sem espanto posso lhe dizer: - até breve, amigo!
(Homenagem ao amigo Francisco Carlos da Silva – in memoriam)
Texto escrito pela Professora da UECE, Socorro Pinheiro, publicado no jornal A PRAÇA de Iguatu.